Com o devido acesso ao crédito e a terras, as mulheres brasileiras do campo podem ter um aumento de produtividade de 30%, enquanto sua fome pode ser reduzida em 17%. Essa foi a tônica da apresentação da gerente do escritório brasileiro da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino, feita em Brasília, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, que será comemorado na próxima segunda-feira, 16. Ana Carolina destacou que, além de não serem oficialmente donas das terras, as mulheres enfrentam “barreiras estruturantes”, como o difícil acesso a ativos como o crédito e outros insumos, que ficam concentrados na mão dos homens.
Segundo ela, embora respondam por grande parte do que é gerado no campo, as mulheres ainda não são identificadas como produtoras nem proprietárias de terras. O último Censo Agropecuário, de 2006, evidencia essa desigualdade: enquanto três milhões de homens eram apontados como donos de pequenos terras, apenas 600 mulheres tinham tal título. Das 15 mil mulheres que habitavam o campo, de acordo com o levantamento, um terço tinha uma ocupação e era formalmente reconhecida por isso, com a maioria sendo considerada somente um apoio.
A gerente da ONU também destacou que, entre 1995 e 2014, a porcentagem de mulheres que chefiam famílias saltou de 15% para mais de 25%. Segundo ela, o fato pode estar relacionado ao fenômeno de migração forçada, em que os homens partem de suas casas em busca de trabalho, transferindo o cuidado da família a suas companheiras.
Permanência no campo
O coordenador-residente do sistema das Nações Unidas no Brasil, Niky Fabiancic, afirmou que o relatório O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo, divulgado ontem (9) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), instrui as autoridades a dar à população do campo um caminho à inclusão para que os mesmos permaneçam na área rural, com dados sobre programas públicos bem-sucedidos.
Entre as recomendações do estudo foram apontadas uma maior conexão entre as áreas rurais e os mercados urbanos e a sustentação de políticas que assegurem que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar das cidades.
Segundo Fabiancic, nos países em desenvolvimento, cerca de 43% dos trabalhadores rurais são mulheres, que “são responsáveis por produzir grande parte dos alimentos disponíveis”. Para ele “essas mulheres podem ser agentes de transformação efetivos nas cadeias de produção e consumo de alimentos, para que a terra e diferentes recursos sejam divididos de maneira eficiente e sustentável. Mas, para que isso possa acontecer, é preciso que haja políticas que facilitem sua participação nas tomadas de decisão”, falou. “Do total de pessoas vivendo em extrema pobreza no mundo, 80% fazem parte das populações rurais. E o Brasil tem 30% dos pobres rurais da América Latina e do Caribe”, lembrou Fabiancic.
Fonte: Canal Rural